segunda-feira, outubro 31, 2005

A Passante

(E continua minha sina com a macaca Olga.)

Spiritus Mundi? - Um fantasma.
O mundo morreu, e de asma
Crônica, seca - um chão no estio:
Olga, a prisioneira, fugiu.

Desde então, as ruas - artérias
De um peito enfermo - são etéreas
Projeções do que não mais há
Em que eu... - Mas lá! - Quem será?

Na Teeladen - "one of those bells..."
Surge a Passante inesperada;
"Enfim uma fêmea sem nada
De pelos!" - E um coque, e três véus!

"Ça vous plaît?", de perto, lhe digo.
Pois ela espreita um pão-de-ló;
"Um dom do teu fiel Rodrigo..."
Ela ri, abre o leque e só

Faz que sim; meu pau se dilata
(O mundo respira: um pulmão!);
Trago o pão - ela, muito grata,
Vira, tira os véus - e é um cão.

sábado, outubro 29, 2005

ars amatoria


Se normalmente não se deve levar a sério confissões de amor, tão menos depois de uma gozada. No mais das vezes, um "eu te amo" aí não passa de um "muito obrigado", só que mais solene.

sexta-feira, outubro 28, 2005

uma noite na ópera


E ao final do Tannhäuser, quando os intrumentos se calaram, quando o silêncio tenso explodiu em palmas, quando, da massa amorfa da platéia, eclodiram os primeiros "bravo!" de tradição, berraram do fundo do teatro:

- TOCA RAUL!

Os músicos se entreolharam, sem jeito. E os violinos começaram os primeiros acordes de "Gita".

- A fudê, caralho! - a velhinha ao meu lado mexeu o quadril, numa furumfada.

terça-feira, outubro 25, 2005

indies on fire


Strokes hoje à noite. Vou, e a caráter. Até porque a roupa é fácil (e seguem piadas sobre terninhos infantis e calças encolhidas na secadora. Constrangimento entre os leitores; dois blogueiros me deslinkam). Só o penteado complica. Ah, a precisa e contraditória arte de despentear o cabelo! Duas horas e um tubo de laquê. Mais fácil escalpar um amigo indie e fazer uma peruca.

*

Além de terem elevado a arte do oxímoro camoniano ao couro capilar, os Strokes também fizeram as fotos mais enlouquecidas e despirocadas e cheias de revolta que já apareceram no mundo anglo-saxão desde a ascensão de Eduardo VII ao trono da Inglaterra. Tudo regado a Toddyinho, bien entendu. Aquelas caras de ressaca, aqueles olhinhos vermelhos, grogues, meio cerrados; efeitos colaterais da ingestão excessiva de Neston com banana amassada. Dona Nhá-Nhá, ama-de-leite da família Donald Trump, sentava num mochinho durante as sessões fotográficas para "Is This It?" e brincava de aviãozinho com os meninos.

Mas os clipes são o melhor. Toda a espontaneidade da juventude rebelde e sem perspectiva está sintetizada naquela cena de "Last Nite" em que Julian Casablancas quebra o microfone no palco. Rock'n'roll é isso aí. Precisou só de 40 minutos de ensaio para um resultado tão perfeito. E convincente - convincente como aquelas bichas que vão aprender desapego material na Índia, e voltam de cajado, sandália de couro e óculos Dolce & Gabbana.

*

The Strokes. Mais uma manifestação da grande-mãe Farsa da Indústria Fonográfica, alguém vai dizer. But who cares, meu leitor adorninho, who cares?

domingo, outubro 23, 2005

mário quintana


Mário Quintana era tão bom quanto pouco respeitado. Alguma crueldade explícita a mais, um bom número de reticências e pontos de exclamação a menos e dois ou três cadáveres de criança por lauda, e teríamos um Saki, um Evelyn Waugh na poesia brasileira. Sim, leitora amiga, adoro paralelos exagerados. Mas é fato que Mário Quintana era um dos poucos escritores brasileiros, e o único poeta brasileiro, que sabia escrever com ironia, com maldade. É só comparar com a colegial Carlotta Drummond de Andrade escrevendo crônica.

Isso tudo ficou claro para mim não num poema, mas numa carta de resposta a um crítico. O caso aconteceu na Província de São Pedro, revista em que colaborava gente como Paulo Rónai e Otto Maria Carpeaux, e que está totalmente digitalizada em www.ipct.pucrs.br/letras/saopedro/index.htm . Em 1945, James Amado - marxista e irmão daquele, daquele mesmo, o Avatar da Literatura Tropicaliente - publicou um artigo crítico sobre a poesia do Mário Quintana. Para ele, Quintana teria "perdido o bonde na poesia" porque tinha "se afastado" da sua classe, sendo "lamentável que ele não tenha se esforçado por chegar a outra classe qualquer"; afinal, como todo mundo sabe, isso "prejudica a sua arte, que toma o caráter de um derivativo, onde o artista faz jorrar a sua dor, falsa e deprimente." Outros golpes de genealidade crítica: a obviedade de que a "morte é o único assunto desses artistas (burgueses)", ou o fato ignorado só por Mecken e por meu cachorros de que "todos os autores burgueses têm em seus livros e poemas o amigo. É um sentimento que utlrapassa a nossa idéia de amigo, coisa homossexual, típica da decadência burguesa." Claro que sim. A arte burguesa era uma bicha gótica, uma traveca que dublava Siouxie and The Banshees em palco de inferninho nos 80's, sim, sim.

Agora, a resposta de Mário Quintana no número posterior:
"BILHETE AO JAMES

(..)

Li com espanto e apreço o ensaio que V. remeteu à PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO e no qual tem a bondade de me avisar de que tomei o bonde errado em poesia. Apressei-me então em ver o que têm feito os poetas que, segundo V., tomaram o bonde certo. Eis don Pablo Neruda: publica ele, numa revista nossa, um ode à sra. mãe de Luiz Carlos Prestes. Abro outra revsita e surge-me Camilo Jesus, com um poema para "Anita Leocádia", filhinha de Luiz Carlos Prestes. Desconsolo-me. Vejo que cheguei tarde, muito tarde. Agora só me restam as tias do sr. Luiz Carlos Prestes...

Mas quero crer que não é bem isso o que V. deseja, e que o próprio sr. Luiz Carlos Prestes será o primeiro a ficar constrangido com essas coisas. Pelo que entendi, quer V. que nós, os poetas, nos limitemos a cantar as reivindicações sociais da nossa época. Não, isto não é negócio para nós, seu James! Pois em vista da projeção nacional do sr. Prestes e da eficiente atividade de adeptos tão sinceros e convictos como V. e os demais camaradas seus, é de crer que muito em breve a questão social estará resolvida no Brasil. E o que vai ser de nós então, os poetas brasileiros? Ficaremos irremediavelmente a pé, sem bonde nenhum, certo ou errado...

Mas felizmente não é bem assim. Há outras coisas, as coisas eternas, que não se resolvem nunca, graças a Deus: estrelas, grilos, penas de amor, anjos, nuvens, mortos, arroios, todas as paisagens, alegrias e tristezas deste e de outro mundo. Há outras coisas... como aliás já dizia o assaz citado Shakespeare: There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy, o que, trocado em bom português atual, dá o seguinte: Há mais coisas no céu e na terra, ó James, do que sonha o materialismo dialético.
Sem mais, disponha, etc."

sexta-feira, outubro 21, 2005

o meu nirvana blasé


Quase nada me irrita. Passo dias e dias em casa, de monóculo e roupão e pantufa de bichinho, olhando com cara de impassível desprezo para o samsara de grosseria que se repete ao infinito lá na rua.

Mas meu nirvana blasé tem limites: por exemplo, gente que acha Proust "interessante". Ah, estas palavras higiênicas! Um carburador pode ser interessante; estrutura de romance vanguardista pode ser interessante; até um molusco pode ser interessante - vejam! limpo o monóculo e tem uma lesma no meu jardim, de all-star e franjinha e casaco adidas, lendo o ciclo de Albertine e suspirando: "Oh, mas que coisa chata!" Sim, sim; viram como é muito fácil? É só ler e dizer o que acha. Só que até lesma faz assim, e tem crítico de arte que não consegue.

Daí a regra: se você gostou de Proust, diga algo como "excelente", e sem justificativas abichonadas: "Me identifiquei muuuito!"; "Me tocou por-den-tro...". Se não gostou, massacre. Porque literatura é pretexto para odiar sem culpa ou amar sem receio; afinal, poucos escritores se ferem com nossos ódios, e livros quase nunca traem quando seguros do amor alheio. Então chame Proust de "Lya Luft high-brow", de "Balzac sonífero"; choque um aficcionado dizendo que o melhor em "À la Recherche" é poder trocar todos os volumes por meia dúzia de Agatha Christies. Ou simplesmente troque todos os volumes por meia dúzia de Agatha Christies. Enfim, qualquer coisa, menos avaliar a contribuição de Proust para a teoria do romance e disfarçar insensibilidade com enrolação pseudocientífica.

quarta-feira, outubro 19, 2005

grito dos excluídos:



"Eu quero é tchic-tchic-tchi-tchic-tá!"

segunda-feira, outubro 17, 2005

a tea with olga

É - a Criação tem câncer de mama.
A xícara se adapta mal na fuça.
Olga tenta tomar chá, e o derrama
Pelos cantos do beiço, e então soluça.

Cada gota que cai sobre o carpete,
Como os dentes do dragão, gera um homem;
Dum gole vêm mil mirmidões-coquete
Que se matam num charleston, e somem.

No Ritz, na entrada do Ritz, as senhoras
Riam em Si da minha amante estoa:
"Belos modos para o chá das seis horas!" -
Disso eu ri - o que Olga não perdoa;

(A etiqueta eupátrida, etc.)

Ela urrou, deu um pulo - o rabo em riste
Contra a prata e a porcelana, e isto é tudo:
Sumiu com um dos mirmidões. - Que triste
O desamor por falta de um canudo!

sexta-feira, outubro 14, 2005

shall we dance?


Um gordinho sem camisa ensaia passos de sapateado no prédio ao lado. Sempre pensei que musicais eram só coisa de velha, de veado ou de veado velho (ou veado-velha, whatever). Tenho de incluir mais uma categoria: gordos de boné e meia soquete e short de time de futebol, dançando "Singing in the Rain" no quarto enquanto a empregada limpa a cozinha.


For I'll be there
Puttin' down my top hat
Mussin' up my white tie
Dancin' in my tails
*


É que musicais são um dos gêneros cinematográficos mais desvalorizados atualmente. Até pornochanchada vende mais. E mesmo admiradores parecem sempre a ponto de incluir um "pode acreditar" quando dizem que gostam. Efeito dos sixties: foi na década maldita que se difundiu a reação contra gente com mais de 30 e cenários de filme do Vincente Minnelli. De repente, as pessoas começaram a se sentir culpadas por serem classe média (pressão do marxismo, este cristianismo sem glamour), e o ideal de cinema deixou de ser Gene Kelly - bonito, engraçado e heartbreaker, para ser Godard - feio, resmungão e de certo meio brocha. Enfim, cinema cabeça não é cinema, é auto-penitência. Mas, o que era cultura virou contracultura, e enquanto indies fazem teses e teses sobre nouvelle vague, nós, os excluídos - "as velhas! os gays! os gordos bobos!" -, nos deliciamos ao ver os figurantes surpresos com Fred Astaire dançando na cadeira de engraxate em "The Band Wagon".

*


Revi "Singing in the Rain" noite passada. Sim, todo; inclusive Aquela Cena (a "Satisfaction", a "What a Wonderful World" dos musicais). E quis que me acontecesse o que acontece àqueles figurantes; cruzar uma esquina numa noite chuvosa e dar de cara com Gene Kelly sapateando com um guarda-chuva. Está chovendo; à noite eu talvez saia. Mas o máximo que me espera é camelô vendendo sombrinha, ou uma traveca fazendo ponto na Assis Brasil. Well, se eu cantar "Good Morning" e ela fizer uma dancinha sensual embaixo da marquise, já fico satisfeito.

quarta-feira, outubro 12, 2005

betina highway e o quilombo encantado


Um sabiá levantou vôo; um arbusto se mexeu, e do matinho raso surgiu Betina Highway, lingüista e mãe de três filhos. O uniforme camuflado, o galho na cabeça e o carvão preto na bochecha deixavam claro: estava em missão delicada. Tinha se embrenhado no interior do Amapá; há alguns anos corriam boatos de que nos recônditos da selva equatorial se escondia uma espécie de futuro ativo com gerúndio, agora em extinção.

Examinou com o binóculo a paisagem verdejante: via os telhados das ocas e o totem de uma telecom desconhecida apontando, ereto, para o céu. Não pôde se conter: bateu palminhas de alegria. Após dias de caminhada, tinha chegado finalmente ao lendário quilombo das operadoras de telemarketing. Conta-se ser o último povoado que sobreviveu a anos de treinamento exaustivo, no qual gerentes obrigavam à base do relho estagiárias emocionalmente frágeis a empregar o futuro simples durante o horário do expediente. Um grupo de estagiárias carentes entrou, então, em motim e fugiu para a selva, onde, diz a lenda, fundaram um quilombo em que a propriedade é coletiva, a religião é matriarcal e as pessoas "vão estar fazendo" o que bem quiserem, desde que "não estejam prejudicando" ninguém.

Betina tocou o apito. Do meio do matagal, surgiram seus mestrandos em roupa de safari, meio entediados; tribos de negrinhos semi-nus contratados vinham carregando bagagens, e meia-dúzia de elefantes cambaleavam cabisbaixos pela sintaxe gerativa sob quarenta e três graus e alguns exércitos de moscas. A expedição a postos, todos se dirigiram para a aldeia.

Silêncio. Espiaram a primeira oca: apenas utensílios domésticos espalhados, um cão magro com parkinson e um pilha de romances Sabrina ao lado da cloaca. O mesmo na segunda, o mesmo na terceira oca, e assim por diante. À medida que se aproximavam do centro da povoação, viam ossos quebrados e esqueletos com restos de peruca; alguns conservavam ainda os terninhos azul-marinho do uniforme. Os sinais eram claros demais: alguma coisa de terrível havia acontecido no povoado: uma epidemia, uma guerra, uma invasão de povos avizinhados. Betina estava aterrada; conseguira cinco bolsas do CNPQ para ver esqueletos mal vestidos? Talvez tivesse que adulterar os dados novamente no relatório desse ano.

Chegaram, então, ao centro da aldeia. Pararam em frente à oca mais alta: "Só pode ser a da operadora-pajé", disse um dos seus mestrandos, carcomido de bexigas. Dentro, viram as cenas mais atrozes: imagens de unicórnios new age cobriam as paredes; bonecos com fotos de ex-namorados jaziam furados por agulhas de tricô; o que antes fora uma fogueira não era mais que um fogo morto, e em frente ao carvão, uma caveira coberta de colares e penas e amuletos orientais segurava um giz de cera sobre um papel de carta em que se lia:

OS AMERICANOS NÃO TÊM NADA A VER COM FUTURO COM GERÚNDIO, CARALHO!

Betina Highway bateu uma foto, emocionada; estava mais do que nunca convencida da importância civilizatória da lingüística. Já não precisaria adulterar o relatório.

segunda-feira, outubro 10, 2005

un prétexte pour faire des vers


"Il aime mieux être assis que debout, couché qu'assis. C'est une habitude prise quand la mort vient nous coucher pour toujours. Il fait des vers pour avoir un prétexte de ne rien faire, et ne fait rien sous prétexte que'il fait des vers."


(
Théophile Gautier, se apresentando no prefácio a "Albertus")

sexta-feira, outubro 07, 2005

óculos espelhado, botinha de cowboy e muita energia positiva


Além de roupas, existem idéias bregas - idéias que são a jaqueta do Mickey, a botinha de cowboy do intelecto. E o mais comum é as pessoas escaparem das primeiras, mas não das segundas. Portanto, é dever da amizade alertar quanto aos dois perigos: pisar nos pés do amigo por baixo da mesa quando ele diz que cada um tem seu deus interior; pedir para moderar na psicanálise heterodoxa; alertar que sapato marrom não combina com energia positiva. Toques sutis que preservam nossos próximos de um bom número de faux-pas, como sandálias, tênis com sobretudo e teorias de aspirante a psicólogo.


Duas garotas wicca acompanhadas pelo psicanalista new age (de sunga e peito peludo) e pelo deus interior (ao fundo, preparando uma caipiroska, or something).

terça-feira, outubro 04, 2005

não deixa ele engolir a língua!


Ao lado do gênio laureado, do gênio mau-caráter e do gênio incompreendido, Glauber Rocha contribuiu com mais uma categoria para este hall de clichês: o gênio epilético. Ou melhor, a epilepsia do Gênio. O Gênio se contorsendo e se debatendo e se babando todo, tentando proferir frases solenes sobre a função do artista na sociedade de mercado enquanto alguém mete o dedo na sua boca para segurar a língua.

"Terra em transe", por exemplo. À primeira vista, um filme com belas imagens, algumas geniais, até. Coisas do tipo: Clovis Bornay, numa fantasia galinha preta deluxe, pondo na cabeça de Paulo Autran uma coroa de bijuteria kitsch, freddiemercuryanamente kitsch. A história, tão familiar, se passa num país imaginário, onde um candidato populista se alia à direita malvadona para ganhar a eleição que o leva à presidência. No fim, acaba sofrendo um golpe de Estado (ah, essa moda sixties de Pepino di Capri, cabelo com bombrill e golpes de Estado!). Até aí, molto mi piace. Mas não sei por quê, se Glauber Rocha olhou fixamente para uma estrobo, se esqueceu o horário do remédio; o fato é que os personagens passam o filme inteiro berrando coisas constrangedoras: "A luta de classes existe; de que lado você está?" ou "Eu morro pelo triunfo da Beleza e da Verdade!". Enfim, diálogos de quem não toma Gardenal, e precisa. "Terra em transe" seria perfeito em árabe ou bantu, e sem legenda.

Agora, tirando essas coisas, eu gosto de Glauber Rocha. Epiléticos fora de crise são tratáveis - apesar de eu lhe atribuir "fora de crise" mais por dedução do que por já tê-lo visto sem espumar saliva branca. Só não gosto mesmo de quem leva o que ele dizia a sério, de quem tentar filmar como ele a sério, de quem fala que gosta "do Glauber" a sério, e de outros portadores muito sérios de trissomia no cromossomo 21.


Segura a língua dele!: gênio epilético ou epilepsia do Gênio?


sábado, outubro 01, 2005

a macaca olga no museu

Olga passeava no museu,
Enquanto eu nos salões a seguia;
“As virtudes de um reles cristão
Não valem kaloì kaì agathía.”

Foi nisso que pensei quando vi
Sua cara de macaca, estóica
Como um deus que despreza os mortais
Na pose de uma planta monóica.

Tudo o que era beleza e vigor
Tinha nela um tropo simiesco;
O prazer de estar num bananal
É o mesmo que encontrava no afresco

Em que via, Ecole de Poussin,
Cenas de coragem coriolana
Com heróis, que lhe deviam ser
Só metáforas de uma banana.

Ça vous plaît?”, mais perto, perguntei,
Pois Olga farejava a pintura;
Pisquei, dei-lhe um cravo e recebi
O escarro que é o “sim” da casta pura.

(A etiqueta eupátrida é tão dura!)

Com isso, o seu beiço entumesceu,
E a beijei, ao que enxerguei de esguelha
A tal dissecação, de Rembrandt,
E um Amor picado de uma abelha.