quarta-feira, novembro 23, 2005

right said fred


Se a proliferação de blogs enfestou nossas vidas com textos ruins, a proliferação de máquinas digitais teve o mesmo efeito com imagens embaraçosas. Aqueles 20 centavos por revelação eram higiênicos! Porque não, não foi só o álbum da sua tia no Pantanal que cresceu em progressão geométrica - de 2 fotos do jacaré Paçoquinha para mais de 24; também os álbuns narcisistas do Orkut agora se alimentam de umbigos e peitinhos e mamilos digitalizados. A definição mais perfeita de um álbum narcisista no Orkut é a de uma coleção de imagens feias sobre corpos bonitos. Quantas vezes já não desliguei o celular para affairs que eu vi em fotos no day-after fazendo muque pra mamãe, levantando a camisa para mostrar o abdômen logo acima de legendas singelas, "APETITOSO" ou "IRRESISTÍVEL". Muito peculiar a sensação de ter passado a noite usando a língua numa coisa irresistível - mas cheese cake de framboesa causa o mesmo prazer, e não geme alto quando comido.



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Não, não é que eu seja contra os meninos aparecerem sem camisa no Orkut. Aliás, Platão disse tudo; meu espírito filosófico realmente se eleva ao ver imagens de efebos gremistas jogando futevôlei em Imbé. Mas hipocrisia, rapazes, hipocrisia! - este sinônimo tão comum para caluniar "civilização". Tentem não parecer tão deliberadamente sexy; é inexplicável, mas até boxeador adquire algo de feminino ao posar de tapa-sexo, fazendo beiço e carinha-de-quero-mais com o dedão na boca. Fotos casuais na praia, na piscina, casam bem as duas necessidades: mostrar o bíceps e manter um pouco da dignidade de coisa respirante. Mas, como sempre, julgo os outros por mim mesmo, e talvez dignidade não valha um scrapbook cheio de pintos.