não deixa ele engolir a língua!
Ao lado do gênio laureado, do gênio mau-caráter e do gênio incompreendido, Glauber Rocha contribuiu com mais uma categoria para este hall de clichês: o gênio epilético. Ou melhor, a epilepsia do Gênio. O Gênio se contorsendo e se debatendo e se babando todo, tentando proferir frases solenes sobre a função do artista na sociedade de mercado enquanto alguém mete o dedo na sua boca para segurar a língua.
"Terra em transe", por exemplo. À primeira vista, um filme com belas imagens, algumas geniais, até. Coisas do tipo: Clovis Bornay, numa fantasia galinha preta deluxe, pondo na cabeça de Paulo Autran uma coroa de bijuteria kitsch, freddiemercuryanamente kitsch. A história, tão familiar, se passa num país imaginário, onde um candidato populista se alia à direita malvadona para ganhar a eleição que o leva à presidência. No fim, acaba sofrendo um golpe de Estado (ah, essa moda sixties de Pepino di Capri, cabelo com bombrill e golpes de Estado!). Até aí, molto mi piace. Mas não sei por quê, se Glauber Rocha olhou fixamente para uma estrobo, se esqueceu o horário do remédio; o fato é que os personagens passam o filme inteiro berrando coisas constrangedoras: "A luta de classes existe; de que lado você está?" ou "Eu morro pelo triunfo da Beleza e da Verdade!". Enfim, diálogos de quem não toma Gardenal, e precisa. "Terra em transe" seria perfeito em árabe ou bantu, e sem legenda.
Agora, tirando essas coisas, eu gosto de Glauber Rocha. Epiléticos fora de crise são tratáveis - apesar de eu lhe atribuir "fora de crise" mais por dedução do que por já tê-lo visto sem espumar saliva branca. Só não gosto mesmo de quem leva o que ele dizia a sério, de quem tentar filmar como ele a sério, de quem fala que gosta "do Glauber" a sério, e de outros portadores muito sérios de trissomia no cromossomo 21.
Segura a língua dele!: gênio epilético ou epilepsia do Gênio?
4 Comments:
Eu nunca vi nenhum filme do Gênio em questão. Os personagens gritam mesmo que há uma luta de classes e que é preciso dizer de que lado você está? Nossa, nossa.
Assisti ontem ao "O homem que sabia demais", Doris Day, ao piano, "What will be, will be". Prefiro.
Abraço,
não TE recomendo ludovico, mas se a curiosidade for maior que a prudência, sugiro que tire o som do filme e ligue bem alto a doris day "Whatever will be, will be".
"uma colagem pós-moderna, sacou, cara?"
;-)
abraço
imagem.. espelho..personagem
quem escreve seu Lemos?
E quem TE escreve?
Bom Dia!
Venho por este meio informar a existência de Associações que tendo como principal objectivo dar resposta às necessidades das pessoas com epilepsia podem lhe ser uteis:
www.lpce.pt
www.epi.do.sapo.pt
Os meus blogs pessoais que também são sobre esta patologia:
www.epilepsiasociedade.blogspot.com
www.epilepsia.blogs.sapo.pt
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