saudades do bas-fond
"De-lovely", a biografia do Cole Porter, é uma droga. O roteiro é forçado; os atores são sem-graça; a Sheryl Crowl lânguida é convincente como a idéia de um rabanete sexy. Só não é um fiasco completo porque, believe me, um personagem que começa uma festa em Veneza e termina na Riviera Francesa não pode ser totalmente chato, por mais que o diretor se aplique. E além disso precisa de umas oito Alanis Morissettes para destruir "Let's Do It". De resto, "de-sgusting", diria um amigo meu.
Só adorei quando Vivian Green canta "Love for Sale" num bordel masculino. Aquilo é o sonho de qualquer gay que não rebole Beyoncé - os kaloí kaí agathoí do homossexualismo. Primeiro, porque não toca house music, o único grande problema em ser gay dos anos 80 para cá. Para mim, a possiblidade de conhecer um garoto bonito de 18 anos que não tenha cd's com remix house das Destiny's Child é quase tão emocionante quanto descobrir que ele é filho de um industrial rico e quer morar comigo nos alpes franceses. Outro motivo para invejar os gays daquela cena: a presença de marinheiros. E marinheiros de verdade, não aspirantes a cover do Village People. Porque um homem que já se apaixonou por um marinheiro pode levantar uma eterna sombrancelha de superioridade; é mais ou menos como um heterossexual que já dormiu com uma pin-up de calendário - em suma, é alguém que foi pra cama com um clichê, não com uma pessoa (e clichês são inferiores a sensibilidades originais, mas pessoas conseguem ser piores que clichês). Pelo que sei, foi o caso do Cole Porter - o marinheiro, claro, não a pin-up. E não duvido que ele tenha pensado nos pêlos nas costas de um sailor norueguês quando escreveu "For I love all of you...".
Só adorei quando Vivian Green canta "Love for Sale" num bordel masculino. Aquilo é o sonho de qualquer gay que não rebole Beyoncé - os kaloí kaí agathoí do homossexualismo. Primeiro, porque não toca house music, o único grande problema em ser gay dos anos 80 para cá. Para mim, a possiblidade de conhecer um garoto bonito de 18 anos que não tenha cd's com remix house das Destiny's Child é quase tão emocionante quanto descobrir que ele é filho de um industrial rico e quer morar comigo nos alpes franceses. Outro motivo para invejar os gays daquela cena: a presença de marinheiros. E marinheiros de verdade, não aspirantes a cover do Village People. Porque um homem que já se apaixonou por um marinheiro pode levantar uma eterna sombrancelha de superioridade; é mais ou menos como um heterossexual que já dormiu com uma pin-up de calendário - em suma, é alguém que foi pra cama com um clichê, não com uma pessoa (e clichês são inferiores a sensibilidades originais, mas pessoas conseguem ser piores que clichês). Pelo que sei, foi o caso do Cole Porter - o marinheiro, claro, não a pin-up. E não duvido que ele tenha pensado nos pêlos nas costas de um sailor norueguês quando escreveu "For I love all of you...".
Além disso, todo mundo está de smoking. Incrível. Quer dizer, não para a década de 30; mas se hoje em dia o bar Ocidente inteiro estivesse vestido assim, pelo menos as roupas eu deixaria intactas nos meus planos incendiários. Nada pior do que gente que sai de noite com camiseta de jiu-jitsu, por exemplo - gays, então, ficam ridículos. Fico sempre imaginando uma bichinha esmagada por um lutador gigantesco, batendo nele com um tamanco, para se livrar. Claro, existem gays que não são bichinhas, que não fariam isso, lutariam, etc. Mas mesmo esses não têm o direito de sair propagandeando a "Academia do Carlão", como eu já vi por aí, e a volta do smoking resolveria o problema. Além disso, smoking é viril e elegante; vai igualmente muito bem com cocaína e, ham, um pouco de luxúria. (Desculpem a palavra, mas não pude me conter. Se tem um pecado capital gay, é esse. Não só pela prática, mas pela sonoridade. A bichinha lutadora ali de cima reviraria os olhos, exageraria no biquinho do "U" e diria: "Lussssúria", se estivesse lendo este texto.)
Lembrei na hora de outra cena de bas-fond gay. É o prostíbulo que aparece em "Ludwig", aquele filme do Visconti. A câmera vai mostrando os michês, todos com cara de cansados, nos braços uns dos outros. São alemães; têm os tornozelos grossos e estão bêbados de cerveja - not very charming, eu sei. Mas a luz da cena é bonita e me fez ver em algum ponto dos meus 15 anos que não eram só prostitutas que mereciam sonetos simbolistas. Fiz na hora um poema sobre um michê chamado Johnny, poema que felizmente se perdeu. Se não, já estaria compilado em coletâneas GLS ao lado de textos do Caio Fernando Abreu, o que não me põe um sorriso nos lábios. Quer dizer, se eu ganhasse algum por isso, tudo bem; o soneto era sobre um prostituto mesmo.
3 Comments:
Na verdade não tenho muito a dizer sobre o texto, pois sou um verdadeiro ignorante em relação a música (especialmente coisas do gênero de Cole Porter). Adorei, porém, o kaloí kaí agathoí!Bom, pelo menos fiz contato...
Abraços, dahling.
Tu, ignorante com relação à música! Você quer dizer: "com relação à musica popular"! Se eu fosse capaz de escrever um post cruzando Handel e homossexualismo, eu com certeza te dedicava. Como isso vai um pouco além do meu nível de psicose, fica a promessa. Pelo menos, tu gostaste deste.
Sugiro que antes de dormir repitas 100 vezes; eu sou um dos kaloí kaí agathoí, eu sou um dos kaloí kaí agathoí... Não tem problema que isso não solucione.
abraço
Eita! Que coisa mais gozada!
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