cência, crítica literária e cenas da vida agro-pastoril
Boa crítica literária: um grande homem lendo um grande texto. Só isso; nada de método, epistemologia, teoria crítica. Crítica literária científica é no máximo um recruta, um baixinho-de-óculos no banco de reserva, que a gente escala na falta de QI's maiores que 1m90. Enfim, Biotônico Fontoura na infância resolve o problema de qualquer Jackobson, juro que sim.
Qual meu problema com críticos metodológicos? É só pensar nos maiores impressionistas do século XIX. Anatole France, Marcel Proust; mesmo Eliot, que tanto combateu o impresionissmo, herdou a qualidade de fazer crítica como conversa, sem formalismo. Sim, grandes escritores foram críticos impressionistas, e fizeram boa crítica. Agora, quanto de ficção escreveram, sei lá, os formalistas russos? Algum poema inesquecível? Algum grande romance? Tudo que o cientificismo literário soube criar foi críticos que não escrevem - ou seja, médicos que não abrem cadáveres.
Isso porque, para eles, ler é igual a aplicar um método. Existem procedimentos, coisinhas-a-fazer diante de um poema, que garantem um ponto de partida no mínimo decente para uma análise. Parece razoável e limpinho, não? Mas repugna. O método é uma estalajadeira sebenta que recebe qualquer um, a qualquer hora, a qualquer preço, basta o sujeito querer uma vaga - o método é pegajosamente democrático. E é mediocrizador por definição - se não garante que você vá dizer coisas geniais sobre um texto, pelo menos que supostamente não vá dizer besteira. O que, por isso mesmo, mata a possibilidade de ser genial. Por outro lado, fazer boa crítica sem método assusta a carneirada precavida. O único temor dessas vidinhas agro-pastoris é a falta de critério entre um A e um B numa tese de mestrado. Que alguém escreva como se conversa, e não como se deita conhecimento; que escreva como um indivíduo, e não como um cientista; que escreva como um cavalheiro, e não como um erudito; tudo isso é inaceitável para eles. E vem sempre aquele argumento: "Tudo bem, sem um método os melhores vão ser livres para dizer coisas geniais, mas e quem não é tão bom assim?". Simples: não vão dizer nada. Nem todo mundo precisa ser literato, darling, e o dinheiro do Estado seria melhor utilizado se houvesse menos vagas em pós-graduação e maior preocupação com qualidade e utilidade do que se escreve por lá. Portanto, quem não é intelectualmente privilegiado, que faça outra coisa na vida. Minha mãe, por exemplo, está com dificuldade de achar faxineira. Já deixei um anúncio no mural da faculdade, e ninguém nos procurou ainda. Quem sabe oferecendo almoço, décimo terceiro e VT alguma estudante de literatura feminista não vislumbra aí uma vocação profunda?
1 Comments:
Valeu, Ruy.
"Thoughts of a dry brain..."; você sabe o resto.
abraço
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