i have a dream (I)
Existem causas nobres. Estão ouvindo?: existem causas nobres! (Repeat after me.) E eu me dedicaria a elas, sem problema. Por exemplo, a lei dos 40 cm. Proibir que os letreiros de loja em Porto Alegre ultrapassem 40 cm de largura. Um coisa muito mais urgente que o casamento gay, que a adoção gay, que o aborto gay, ou que a expansão do Fome Zero até o Congo norueguês, for sure.
Sob meu governo, seria fácil. Já consigo ver milícias de meninos magrinhos, de terno preto, cabelo lambido e óculos de aros grossos, atirando placas de botequim patrocinadas pelo Limão Brahma numa fogueira gigantesca (em que já arderiam, claro, letreiros das "Farmácias Capilé" e do "Bonzão Eletrodomésticos"). Eu sei, os botequeiros não gostariam, iam protestar, "aquela praca de Fanta Uva que eu penei anos pra istalá"; eu sei, eu sei. Mas, veja bem, meu barbudo leitor, nada de novo sob so sol; é só lembrar a Revolta da Vacina. Esta gente não sabe o que é bom pra si. Acham que vacina dá doença; acham que Limão Brahma é coisa fina. E é por isso que eu os deixaria amarrados num canto, entupidos de ovos roxos e música do Zeca Pagodinho, ao mesmo tempo em que os meus garotinhos das milícias da juventude (todos pederastas, comme il faut) fariam uma limpa nos letreiros. Doeria na hora, mas no fim eles iam até gostar. E enquanto isso, eu ficaria em cima dum palanque, tocando a Cavalgada das Valquírias de trás pra diante e gritando palavrões em alemão por um megafone.
Eu e esse meu socialismo incorrigível.
Depois, a reconstrução. O Estado patrocinaria novas placas para as lojas. Todas padronizadas: dourado fosco, 30X40, fonte Times New Roman, bem discretas. Só de pensar, sinto tremores de emoção: uma pobrinha lendo numa dessas placas "Casas Bahia", entrando na loja (um prédio art déco, claro) e comprando o seu sonhado refrigerador de 24X 29,90. Sim, a Redenção da Humanidade; a libertação dos grilhões do "Lojão Oba-Oba"! (levanta da cadeira, e toca um vinili empoeirado da Olga Benario cantando "Bandera Rossa") .
Eu e esse meu socialismo incorrigível.
8 Comments:
Uma espécie de Oswaldo Cruz da desinfecção óptica da cidade. Eu o chamaria para dar jeito nas ruas do centro de minha cidade tropical, conhecidas como "shoppings da palminha". Lá, a cada 2 metros tem um sujeito batendo palmas para atrair (?) clientes e outro gritando num megafone as ofertas do estabelecimento. Verdadeiro inferno dantesco. Saudações.
uh, trash, baby, trash. não sei como é por aí, mas aqui eles ainda tocam umas músicas do inferno junto com o megafone. delírio total.
saudações, volte sempre
Aqui em Fortaleza um carro de sorvetes passa com a seguinte propaganda no autofalante: "6 bolas de sorvete, 1 real: TRAGA A VASILHA."
Meu Deus, que tipo de gente sai de casa correndo com uma VASILHA não mão?
perae...
fonte times new roman?
não dava para ser mais moderno não?
Caro,
também acho de última esses cartazes, mas os prefiro a ter de viver em um país sob o teu governo.
abraços
felipe, não nada de fonte futura, nem underline. mtv demais pra mim. e times new roman impõe mais respeito, coisa fundamental quando se está lidando com pobre.
gabriel, estranho, tenho uma opinião bem diferente sobre um futuro governo meu. e tenho certeza de que outros também teriam. vejo filas e filas de pessoas subindo as escadarias pro meu trono, se apertando pra beijar meu anel (hmm) de rubi. wouldn't it be great?
abraços, abraços.
Eu até não sou contra um governo teu, só pediria que as escadarias que levam ao teu trono para as pessoas "beijarem o teu anel" fossem rolantes, ou, melhor ainda, um elevador panorâmico, if you will. Ah sim, sobre beijar o anel, primeiro, eu espero que o anel a que tu estás te referindo seja, de fato, um anel, não no sentido figurado, senão teríamos problemas; segundo, se a condição acima for atendida, seria de bom tom que tu passasses alguma substância com gosto, sei lá, de chocolate no anel, porque seria uma judiaria fazer os súditos beijarem uma pedra, especialmente uma que tivesse gosto de pedra e, se possível, tirar o anel na hora dos súditos beijá-lo, pois beijar um anel na mão de uma pessoa (com raras excessões) pode ser constrangedor.
É meu filho, um monarca também tem que fazer concessões.
ludovico, duas palavras: quer medo!
adriano, qualquer concessão vale a pena se o prêmio for "controlling the world". lembra?
abraços.
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