"grand hotel" (1932)
Excelente este filme, "Grand Hotel". Me fez pensar que Hollywood, assim como a moda, devia ter parado nos anos 30.
Ter parado, não; voltar ao anos 30. Para nós sentirmos o contraste. Mulheres lindas, em 2020, vestidas em longos de lamê, olhariam fotos de 2005: "Meu Deus, como é que a gente podia usar calça Saint-Tropez?", "E este umbiguinho de fora!". E ririam, exatamente como riem agora, lembrando que há uns 20 anos usavam polaina, ombreira e cabelo frisado.
Ok, o filme, o filme (às vezes me baixa este Lagerfeld). Excelente. Enredo comme il faut; gente rica, ou nem tanto, se encontrando num hotel chic em Berlim. Perfeito: todos os filmes deveriam ter pelo menos um hotel de luxo em Berlim e 70% dos personagens como milionários (os outros 30%, de empregados). Mas o melhor é que existem diálogos! De verdade, e muito bons. Aquele tempo longínquo em que Hollywood investia em diálogos! E se você não acredita, leitor, é só ver "An American In Paris" (1959) ou "A malvada" (late forties, not sure). Sim, é possível fazer boas falas fora da inter-não-sei-o-quê pedantesca do Godard.
Mas o charme maior são os atores. "Grand Hotel" foi o primeiro all-star movie de Hollywood. Antes, cada filme tinha um grande nome que chamava público: a Mae West contracenando com aquele, aquele mesmo; a Marlene Dietrich com lá-ri-ró. Já em "Grand Hotel", a MGM reuniu alguns dos atores mais famosos (e mais caros) da época: Greta Garbo, Joan Crawford, Lionel Barrymore, John Barrymore. Gastou fortunas em cachê. Mas não tinha como dar errado. Joan Crawford faz uma datilógrafa fatal, pra não dizer vagaba mesmo; pelo jeito, nem precisou representar. Já quanto ao John Barrymore, não sei; fiquei prestando atenção o tempo todo em como um homem pode ser elegante de smoking e sombra no olho:
Mas e a Greta Garbo? Com certeza, é difícil falar no acting dela neste filme. Em "Grand Hotel", ela não representa; ela encena. Exatamente como um clown faria. Quando ela aparece, interpretando uma bailarina suicida, o que se vê são gestos, movimentos; body language, é isso, body language, como no cinema mudo. Até a voz parece uma extensão do movimento do corpo na tela; sem sutiliezas psicológicas, sem vontade de realismo; quase como se a fala fizesse parte duma mímica, como um outro membro do corpo. Bizarro, realmente bizarro. Não sei se em outra ficaria tão bem, ou se fica tão bem só porque é nela. Peu importe, não é mesmo?
Até porque é neste filme que ela tem a sua frase. Dos 30's ao 50's, todas elas - ou Elas - tinham as suas falas clássicas: Mae West ("Come up and see me sometime"), Marlene Dietrich ("He was some kind of a man. What does it matter what we say about people?"). E a Greta Garbo: "Leave me alone. I want to be alone". Os fãs adoram. Dizem que "é profético": la Garbo, no fim da vida, se isolou do mundo num apartamento. Se eu não soubesse disso, a frase teria passado em branco. Sabendo, fica charmoso.
Mas o que é tudo isso perto daquelas roupas?
12 Comments:
Bem como foi dito em uma das tertúlias vespertinas desse distinto Blog: a causa de todos os nossos males é a realidade não imitar o cinema.
adriano, é terminantemente proibido usar a palavra TERTULIA em qualquer sintagma (verbal ou nominal) que for escrito neste blog! o crime tem agravamento quando seguido da palavra "vespertina".
"distinto" pode ser usado somente quando o comentador usar nariz de palhaço e atirar bacalhau para o público. tirando isso, dá fogueira.
claro, que há brechas na lei. para amigos. e principalmente quando eles imitam em público muito bem senhores pomposos.
abraço
Cazzo, agora tu me assustaste. sendo eu um freqüentador assíduo desse blog, preciso saber quais são as leis. O que há de errado com esses termos?
o problema é o conselheiro acácio, adriano, o conselheiro acácio.
hhehe
mas há nuances, acredite. deixando claro que é gozação (hmm), como foi o caso, eu deixo. hehehe.
Não li essa obra, tive que buscar fontes extra-literárias. Ok, me excedi nos termos, é que não estou tomando minha pílula e isso me deixa pedante, mas, de qualquer forma, não falei a sério.
Abraço
eu sei, darling, eu sei. era só brincadeira: não se reprima, como dizia o ricky martin quando era mexicano e usava aparelho.
Rapaz, eu preferiria que a moda tivesse estacionado nos anos vinte, the jazz age, Zelda e Scott, em Paris, andando de triciclos por Montmartre, entre um martini e outro.
Já o cinema poderia ter avançado até os anos cinquenta, até Hitchcock, mais exatamente, e Kim Novak subindo aquela escada em espiral.
Abraço.
olá ludovico,
ok, ok, hitchcock e 20's são sugestões mais que aceitáveis também. o que importa é: qualquer coisa que não seja cinema engagé tecanho e traparia democrática pós-60's está valendo.
abraço
É, a evolução, às vezes, é um péssimo hábito.
hahaha, é mesmo, deixamos o creacionismo cristão pelo darwin. eca.
Darwin, Marx e Freud, os três grandes revolucionários do pensamento para o século XX (Darwin nos levou a crer que deveríamos evoluir; Marx nos levou a buscar a igualdade de classes e Freud tornou o sexo, antes divertido, a coisa mais complicada do mundo) contribuíram, antes de tudo, para tornar nossas vidas mais chatas.
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