segunda-feira, agosto 01, 2005

vogue!


Não, não é que eu ache que tudo é pose. Claro que existe a naturalidade. O reflexo de tirar a mão de uma chapa quente. As pulsões sexuais. A tendência a contrair feiamente os músculos do rosto na tristeza, e um pouco menos feiamente na alegria.

O problema é que o natural é vulgar. Tudo quanto nivela Paul Valéry com a costureira da sua mãe só pode funcionar como um apesar de no espírito humano. Tanto que nos elogios existe sempre a elipse de um apesar de e um fenômeno natural: "Paul Valéry foi um grande poeta (apesar de digerir alimentos com suco gástrico)"; "Aquele industrial é um homem generoso (apesar de ter glândulas sudoríparas ativas)"; "Claudia Peirucchi tem muito, mas muito bom gosto para festas (apesar da lubrificação vaginal)".

Porque é a pose que quebra a monotonia dos atributos darwinisticamente herdados. É a pose que faz deles algo mais que mecanismo de sobrevivência. Se os músculos do meu rosto quase nunca se contraem feiamente na alegria e na tristeza, estou posando ou de modelo ou de estóico. Se por prazer controlo um reflexo não-condicionado e deixo minha mão na chapa quente, assumo o personagem de masoquista; se caço na rua blogueirinhos de 15 anos para fazer hot-dogs com seus dedos na mesma chapa, poso de sádico (e de bem-feitor da blogosfera, pra alguns). São as poses os verdadeiros antípodas da natureza; são as poses que marcam o início da civilização. E atenção, atenção para o aforismo (já deixo entre aspas, para poupar o seu trabalho ao copiar e mandar entusiasticamente para seus amigos do Orkut): "A relação pose X naturalidade é a relação cru X cozido de quem detesta Lévi-Strauss." (Oh! Lindo! Lindo!)


Meu Deus, só secreto tanta sabedoria para ela não empedrar nos rins.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi!
Me ligou na sexta??? Tava no cinema e não pude atender... Bjs!!!

Paty

8:56 AM  
Blogger rodrigo de lemos said...

sim, malpa, para um fondue com vinho, muito vinho aqui na sexta. e uns queijos. e chocolate. e música boa. e orgias panssexuais com bodes e peixes elétricos.

pena que não pôde atender.

;-)

beijão

3:02 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bodes e peixes ELÉTRICOS, nunca naturais. Iak iak iak iak.

4:11 PM  
Blogger Odorico Leal said...

Espontaneidade, quase sempre, é pretexto para falta de educação. Há uma máxima de La Rochefoucauld sobre isso, se bem me lembro.

Abraço,

6:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Infelizmente, pose é o único meio de ocultar a nossa ligação abjeta com os animais. Por isso, acho que, antes de aprenderem a ler e contar, as crianças deveriam, todas, ter rígidas lições de etiqueta aristocrática com governantas inglesas à la Oscar Wilde.

6:57 PM  
Blogger rodrigo de lemos said...

bm lembrado, ludovico; é aquela dos jovens que se acham naturais quando são na verdade mal-educados. excelente, excelente máxima.

gabriel, é isso, exatamente isso. mas melhor que uma governanta à la oscar wilde é o próprio oscar wilde COMO governanta. ;-)

adriano, sendo fiel aos princípiso deste post, até os bodes eram elétricos. e o vinho também, veja só...

abraços, abraços

7:46 PM  

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