meu deus, como eu conheço bem os séculos!
O melhor da literatura francesa foi o século XVII e o XIX. E digo e porque o século XVIII me impede de dizer ao. Claro, a época do Ilumismo foi uma grande mudança na sensibilidade, no pensamento do Ocidente - uma mudança para pior, pode ser, mas mesmo assim uma grande mudança. Só que o Iluminismo cheira a estábulo. Dos livros de Rousseau, de Montesquieu, se desprende aquele odor perculiar de alguém que antes de escrever ordenhou vacas.
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(O século XVII, sim. Corneille, Pascal, Racine, La Rochefoucauld. Sem contar os dois Luíses, e Richelieu, e Mazarin. Perto disso, a única contribuição cultural do século XVIII foi Voltaire ter chamado o século XVII de Grand Siècle. Mesmo assim, Zadig é divertido.)
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E por este mesmo motivo o século XIX foi tão bom. O século XIX foi uma tentativa de limpar os restos de palha e o cheiro de estábulo que os democratas insistiram em semear entre as páginas dos livros. Por isso o dandismo, este purificador de ar da literatura. No fim, a história do século XIX na França não é mais que a história de um vendeiro em mangas de camisa, o Sr. Dupont, insultando em público a figura resignada de um dândi através dos livros do Zola. E um dia, de tanto ser insultado, o dândi se recolheria, buscando refúgio em meio aos sacos de arroz e farinha no fundo da venda do Sr. Dupont. Mas isso foi um pouco depois, num dia de outono de 1940 - o que faz da venda do Sr. Dupont um lugar festejado até hoje por presidentes sul-americanos, e da história do século XX uma história meio melancólica.
4 Comments:
"Mon Dieu, comme tu connais bien les siècles!"
Ótimo post, Rodrigo. ;o)
Abraço,
obrigado, ludovico, obrigado. aceita mais um brioche? o chá está bom de açúcar?
abraço
Ah, mas o século XXI promete...
sim, mauro, o século XXI vai ser o século em que os ratos que moram nos sacos de arroz e farinha na venda do sr. dupont vão expulsar o dândi. veja só, que coisa.
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