meu momento hugh selwyn mauberly
É frustrante escrever poesia. Basicamente porque "anything, anything can go." Os Fields Brothers dizem que a grande contribuição deles para a literatura foi a de terem deixado a poesia mais difícil de escrever. Então não houve grande contribuição nenhuma. A poesia é uma arte rolando ladeira abaixo, e é tão triste saber que depois da queda nem os joelhos da coitada vão prestar.
(Desculpem; desculpem; sempre acordo apocalíptico quando janto muito tarde).
Mas é que nunca foi tão fácil escrever poesia como agora. Escreva n'importe quoi e tenha certeza de que um crítico pós-moderno qualquer vai vir com algum conceito esdrúxulo, inspirado, sei eu, em leis da termodinâmica, para dizer que o seu poema é bom. Aliás, bom não; interessante, epistemologicamente interessante. A nossa época acha qualquer tipo de julgamento tão cruel que mesmo em arte as pessoas só usam palavras assépticas.
É por isso que é tão bom saber que um poeta contemporâneo escreve assim:
MÁQUINAS
Se - máquinas precisas
que somos de morrer -
nossa função implica
memória ininterrupta,
por que, afinal, possuis
(lubrificadamente
contrátil entre as pernas)
o teu lagar de amnésia?
(Mr. Nelson Ascher)
7 Comments:
Que poema, que poema. Não basta escrever os textos na Folha e no blog? Claro que não. Ainda bem. Há o Alexei Bueno também. Já o leu, Rodrigo? Gosto bastante. E o Gerardo Mello Mourão ainda está vivo.
Abraço,
sim, ludovico, mr. ascher rules.
e já ouvi falar bastante no alexei bueno. é bom, é? já o geraldo m&m's não conheço, vou atrás.
obrigado pelas indicações.
abraço
Rapaz, o que eu li do Alexei Bueno achei fabuloso. Procure um livro chamado "Lucernário".
Já o Gerardo Mello Mourão é - o que dizer, o que dizer? - é Apollo caminhando sobre a terra. E é Atlas a sustentando sobre os ombros. Drummond dizia que ele era o poeta do Brasil. E Ezra Pound, numa carta, nos últimos dias, concluiu que, o que ele não conseguira (o épico da América), Mello Mourão tinha alcançado em "O País dos Mourões". Leia a trilogia, "Os Peãs". Depois leia "Invenção do Mar". Wilson Martins, que, apesar de escrever tão chatamente, diz coisas muito certas às vezes, comparou Gerardo ao albatroz de Baudelaire, cujas asas de gigante empedem-no de andar por entre os homens contemporâneos. É verdade que um passado Integralista também o corta de muitas patotas. But he couldn't care less about those bastards. O tempo organiza, cataloga, e ele ainda será posto no devido lugar: Camões, Pessoa, Gerardo Mello Mourão.
Se você for o ler, tenta superar uma possível aversão antecipada em relação a temáticas regionalistas (estou cá te pré-julgando, mas é só porque eu mesmo tenho uma aguda aversão ao regionalismo). O sujeito vai além. Ora está no Nordeste, entre serra e sertão; ora está num bordel em Nova York ou atravessando o báltico.
Meu deus, como escrevi. Sorry, my dearest. É que este sujeito me abala o bom-senso. E gosto de dividi-lo com quem eu tenho na mais alta conta.
Anyway. Pelo menos leia algum dia. ;-)
Abraço,
obrigado, ludovico, obrigado.
e sim, escreva tanto quanto quiser; escreva muito; adoro indicação de poetas que não conheço. principalmente brasileiros. não sei se parece tão incrível, mas nunca li muitos. e é bom seguir as indicações do pound; me ensinou mais do que o curso de letras inteirinho. enfim, I mut check it.
obrigado, obrigado de novo, e abraço
Olá.
Obrigado pela citação e comentários. Agora, serei pernóstico e farei uma pequena correção: no último verso, onde se lê "lugar", leia-se "lagar" ("oficina com os aparelhos adequados para espremer certos frutos -uva, azeitona-, reduzindo-os a líquido", segundo o Houaiss).
Abs
NA
ascher@uol.com.br
oh, já vou corrigir, nelson.
(que péssimo leitor que eu sou. re-alfalbetização urgente ;-))
abraços
Obrigado pela correção. Seu misreading era plausivel, mas a moça q/inspirou a imagem talvez se sentisse meio injustiçada.
abs
nelson
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