terça-feira, junho 14, 2005

o jogo do "é, não e não sei"


Conversar com gente escorregadia ou que fala como livro técnico. E gente que fala com pompa, então. Não sei por quê, mas eu começo logo a sangrar pelo nariz. Me dá vontade de, ham, voltar no tempo e colocar o sujeito naquele jogo que tinha no programa da Xuxa; é claro que vocês lembram; quem tem mais de 25, talvez não; mas era o jogo do "é, não e não sei" *. Para lembrar: a Xuxa fazia perguntas capciosas, e a criança podia responder o que quisesse, desde que não falasse "é, não e não sei". Eu mesmo já tive de tomar muito Quick de morango por perder neste jogo. Mas a minha versão funcionaria ao contrário: eu faço à criatura uma pergunta bem direta ("Clarice Lispector é melhor que Maracujina?"; "O Saramago escrevendo é mais afetado que o Clodovil?"), e o cara tem 3 segundos para responder, só que sem sair do "é, não e não sei". Passando disso...

Passando disso, aí sim teria a maior e melhor diferença: se a criança errava com a Xuxa, ela saía de mãos vazias - ou ganhava um beijo do Praga, no máximo. Já na minha versão, as medidas seriam mais extremas; as luzes piscariam; tocaria uma sirene de ambulância; o Russo jogaria fumaça de extintor no palco, e uma daquelas macacas peludas que tinha no programa do Sérgio Malandro, na verdade o Nelson Rubens fantasiado de Chita, viria de trás das câmeras, urrando, dando cambalhotas e jogando os braços pra cima, e levaria o candidato to the darkest depths of the abyss, onde já se atazanam por toda a eternidade os espíritos do Sartre, do Jakobson e de alguns poetas românticos, que eu ouvi falar que sim.

* Eu sei, eu sei que era "é, não e porquê". Mas eu me permiti mudar. Já imaginaram em quantos caquinhos estouraria o meu medidor de paciência se eu tivesse que ouvir um pusilâmine explicar alguma coisa? Non, merci, l'ennui n'est pas mon amour.