sexta-feira, junho 10, 2005

la rochefoucauld: the best of


Duque de La Rochefoucauld (1613-1680)

La Rochefoucauld é um dos prazeres da vida (ok, isto soa meio lascivo, eu sei). Um prazer um pouco amargo, é verdade, mas por isso mesmo... Enfim, sou supeito: um adepto de bondage intelectual não pode sair por aí dando conselhos pra todo mundo; sempre dá para topar com uns estômagos mais fracos.
Antes de passar à tradução das "Máximas" (ali, senhores, depois da porta à direita...), só algumas informações sobre o duque. Primeiro, ele foi um grande chefe militar que, lá por 1650, se rebelou contra o Luís XIV. Entrou na Fronda, aquela revolta aristocrática que expulsou o rei de Paris. Teve ferimentos; perdeu a guerra; e, no fim, se exilou no interior da França, no seu ducado. Só saiu de lá quando Luís XIV lhe deu perdão e decidiu pagar a ele uma pensão. Vendo a aristocracia virar classe secundária e o rei se apoiar cada vez mais nos gradnes burgueses para financiar o Estado, La Rochefoucauld se decepcionou e virou um libertino. Passou a freqüentar os grandes salões literários da segunda metade do século XVII: Mme de la Fayette, Mme. de Scudéry, Mme de Sablé (aquela dos biscoitos). Teve inúmeras de amantes, amizades ilustres (tanto quanto ele), escreveu muito também. Foi nessa fase que publicou as Maximes (1664), das quais estou traduzindo algumas. Virou uma espécie de filósofo mundano pessimista - tanto é assim que foi Mme de Sevigné, se não me engano, quem disse que quando ela, La Fayette e La Rochefoucauld conversavam, tinha vontade de se enterrar viva, tão terrível era a visão que eles tinham da vida. É que, ao contrário do que muita gente pensa, o século XVII não foi o ápice da aristocracia na França; foi nesta época que a nobreza realmente deixou de ser o sal da terra e, para manter o bem-bom, passou a depender do rei. La Rochefoucauld tentou resistir, mas acabou derrotado.
Morreu em 1680, cercado por Mme. de La Fayette e Bossuet.


Ah, as traduções são minhas. Oh, não, por favor, don't shoot the piano player...

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-Se há um homem que parece não ter nada de ridículo, é porque não procuraram direito.

(S'il y a des hommes dont le ridicule n'ait jamais paru, c'est qu'on ne l'a pas bien cherché.)


-As virtudes se perdem no interesse como os rios se perdem no mar.


(Les vertus se perdent dans l'intérêt, comme les fleuves se perdent dans la mer.)

-É difícil definir o amor: o que se pode dizer é que, na alma, ele é uma paixão por reinar; nos espíritos, uma simpatia; e, no corpo, que ele não passa de um desejo delicado e escondido de possuir o que se ama depois de muitos mistérios.

(Il est difficile de définir l'amour: ce qu'on peut dire est que, dans l'âme, c'est une passion de régner; dans les esprits, c'est une sympathie; et dans le corps, ce n'est q'une envie cachée et délicate de posséder ce que l'on aime après beaucoup de mystères.)

-Fazer mal à maioria dos homens é tão perigoso quanto lhes fazer bem demais.

(Il n'est pas si dangereux de faire du mal à la plupart des hommes que de leur faire trop de bien.)

-As pessoas não se consolam de serem enganadas por seus inimigos e traídas por seus amigos - mas ficam felizes de serem por si mesmas.

(On ne peut se consoler d'être trompé par ses ennemis, et trahi par ses amis; et l'on est souvent satisfait de l'être par soi-même.)

-Todo mundo tem força o bastante para suportar os males dos outros.

(Nous avons tous assez de force pour supporter les maux d'autrui.)

-O amor, assim como o fogo, não pode subsistir sem um movimento contínuo, e ele deixa de viver quando deixa de esperar ou de temer.

(L'amour aussi bien que le feu ne peut subsister sans un mouvement continuel; et il cesse de vivre dès qu'il cesse d'espérer ou de craindre.)



- O que nos impede de afundarmos num único vício é que nós temos vários.

(Ce qui nous empêche souvent de nous abandonner à un seul vice est que nous en avons plusieurs.)

-Por mais que já se tenha explorado o país do amor-próprio, ainda restam muitas terras a conhecer.

(Quelque découverte que l'on ait faite dans le pays de l'amour-propre, il y reste encore bien des terres inconnues.)

- A duração das nossas paixões não depende mais de nós que a duração da nossa vida.

(La durée de nos passions ne dépend pas plus de nous que la durée de notre vie.)

-O interesse fala todas as línguas e encarna todos os personagens, até o de desinteressado.

(L'intérêt parle toute sorte de langues et joue toute sorte de personnage, même celui de desintéressé.)

-Os jovens, em sua maioria, se acham naturais, quando não são mais que pouco polidos e grosseiros.

(La plupart des jeunes gens croient être naturels, lorsqu'ils ne sont que mal polis et grossiers.)

-O que o mundo chama de virtude não é mais que um fantasma criado pelas nossas paixões, ao qual se dá um nome honesto para fazer impunemente o que se quer.

(Ce que le monde nomme vertu n'est d'ordinaire qu'un fantôme formé par nos passions, à qui on donne un nom honnêt pour faire impunément ce qu'on veut.)

-Nós sempre gostamos de quem nos admira, mas nem sempre de quem nós admiramos.

(Nous aimons toujours ceux qui nous admirent; et nous n'aimons pas toujours ceux que nous admirons.)

-Por mais que se fale bem de nós, ninguém nos diz nada de novo.

(Quelque bien qu'on dise de nous, on ne nous apprend rien de nouveau.)

-É mais vergonhoso desconfiar de seus amigos do que ser traído por eles.

(Il est plus honteux de se défier de ses amis que d'en être trompé.)

-Os vícios entram na composição das virtudes como os venenos na composição dos remédios. A prudência os reúne e os tempera, e se serve deles contra os males da vida.

(Les vices entrent dans la composition des vertus comme les poisons entrent dans la composition des remèdes. La prudence les assemble et les tempère, et elle s'en sert utilement contre les maux de la vie.)

-Ninguém deve ser elogiado por sua bondade se não tem força para se mau. Qualquer outra bondade não passa, no mais das vezes, de preguiça ou de fraqueza de vontade.

(Nul ne mérite d'être loué de bonté, s'il n'a pas la force d'être méchant; toute autre bonté n'est le plus souvent qu'une paresse ou une impuissance de volonté.

-Nem para o sol, nem para a morte se pode olhar fixamente.

(Ni le soleil ni la mort on ne peut regarder fixement.)

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bem..
voce pediu para deixar um comentario, nao ? Entao, segura ele ai'..
(antes de prosseguir, desejo lavrar meu protesto com relacao a este teclado horrivel, onde nao sao possiveis acentuacao, cedilha etc.)
Gostei do geral - so' li mesmo as "manchetes" - e, caso o patrulhamento tenha acontecido mesmo, a minha solidariedade de ex-platrulhado. Sem traumas.
Mas, e' o seguinte, "my friend" (ou "brou"): toda vez que se pega um texto, livro, sei la', em outro idioma, e produz-se uma versao dessa obra em portugues, o que se esta' fazerndo mesmo e' isso mesmo: uma versao, "ok"?
Saudacoes universitarias

1:26 PM  
Blogger rodrigo de lemos said...

tecnicamente, diciamo, sim, é uma versão. mas falar tecnicamente é um bom motivo para não falar assim, pelo menos não num blog. então, é tradução. ;-)

abraço, anônimo, e saudações universitárias

1:47 PM  
Anonymous Anônimo said...

Eu não entendo os anônimos. Os meus anônimos, por exemplo, que são sempre grosseiros e vulgares. Eles crêem que eu, sabendo quem são, sairia à caça para espancá-los? Eu só entraria numa luta para proteger Heitor de Aquiles, se tivesse a chance (o que arruinaria o poema da guerra).

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Rapaz, hoje, na locadora, tive em mãos o filme de Fred Astaire. Não aluguei, porque não poderia assistir hoje. Preferi alugar amanhã, assim passo mais tempo com ele. Quando assistir, comento contigo.

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Quanto à La Rochefoucauld, nunca li nada dele. Mas estas máximas foram um bom aperitivo. Esta cai bem para os anônimos do mundo todo que sempre se unem: "Os jovens, em sua maioria, se acham naturais, quando não são mais que pouco polidos e grosseiros.".

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A caixa de comentários eu tive de fechar, não pelas críticas aos textos, mas por umas vulgaridades que andaram postando lá. O blog fica um pouco sem graça sem a possibilidade de comentar. Mas é o jeito.

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Abraço, rapaz

5:36 PM  

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