quinta-feira, abril 14, 2005

an american in paris (1951)

ontem à noite, enquanto via "an american in paris" embaixo das cobertas, cheguei à conclusão de que nem um cacto sobrevive à nossa aridez intelectual



porque ninguém mais gosta de musicais, por exemplo. não se consegue engolir aqueles romances que têm sempre um complicaçãozinha, e, no entanto, dão certo no final("mas é tudo tão falso, tão ingênuo!"); aqueles personagens que saem cantando e dançando no supermercado, abraçados em latas de lixo com perninhas. e o pior são as músicas neocon do gershwin, que insistem em falar de amores discretos e elegantes, quando tem gente morrendo de fome no terceiro mundo!

porque, pra fazer cinema bem-pensante, tem que criticar, criticar os problemas do mundo, ladies and gentlemen. a "mera" fantasia não é mais que uma bergère pra inteligência. e se não tiver realismo, que a deformação seja sempre pra pior.

é que alguma coisa mudou na nossa cabeça depois dos sixties. foi aí que um racionalismo de calcanhar rachado realmente triunfuou nos intelectuais. eles viraram seres compulsivos que, todo dia pela manhã, regam a plantinha eternamente seca da capacidade crítica - coisa que eu tão bem caracterizei uns posts atrás. e desde então, ficaram mais gordos, mais chatos, mais broxas; enfim, ficaram mais goddard.

em compensação, o gene kelly era atlético, engraçado, sabia dançar e comia todo mundo. bem, bem, e eu ainda pergunto quem vocês gostariam de ser?